segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Às Vezes

 Às vezes...

A vida te bate

A vida te embebeda

A casa te encerra

 

Às vezes...

A vida te desilude

A vida é tão rude

Que dá vontade de não viver

 

Às vezes...

A gente perde a vontade

A gente em tudo vê maldade

Que não dá vontade de nada fazer

 

Mas, às vezes

Pode-se escolher um olhar

Um olhar diferente

Diferente feito

A vida

 

Feito a vida sendo diferente

Daí é tudo esparramado

Você fica mais feliz

Mais relaxado

 E entende que tudo é sobre viver

Que tudo a vida encerra

Que não há totalmente certo

Nem errado

 

É tudo o caminho

É tudo o arado

 

O trabalho é a vida

O caminho é o arado

Caminho de rio
crédito: Kazuend


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O Caminho

Dúvidas

Frustrações

Exaltações

Descaminhos

Quando a gota de chuva

Cai no rio

Ela não sabe aonde vai

Apenas segue o fluxo

O flow

O destino

Em algum lugar ela vai chegar

E não sabe aonde desemboca

Em uma praia

No oceano...

Em outro rio

Em um lago

Ou se evapora e vai com as nuvens para outro

Canto

Mas o ponto é que existe um fluxo

Às vezes

A gotinha cai rapidamente

Lá do céu

Às vezes

Segue o caudaloso rio

Às vezes fica imobilizada em uma lagoa

Ou em um pântano

Mas sempre há um caminho

Sempre há um retorno

A missão é o caminho


gotas de chuva em uma folha
📷Borna Bevanda


quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Ânima

Abraços que surgem das sombras

Na penumbra que a vontade assoma

A virada que a vida se entorna

O vinho que tomado se engoma

 

Não há nada mais a fazer agora

O pueril momento tardou-se

“Agora é tarde”

“Agora é tarde”

“Agora é tarde”

A noite findou-se

 

Com um soluço profundo de quem reclama

Que a vida não é boa

Causa insônia

Apatia e animosidade enfadonha

 

Um canto de urutau que abre e encerra a noite

Um carcarejo de suindara que aterroriza os vivos

E evoca e aplana a procissão daqueles que já se foram

Dos lobisomens que assaltam o gado e bebem o sangue de crianças

 

Oh! Noite infame e aniquiladora dos sonhos

Evoca os menestréis a clamar pela alforria daqueles que trabalham

A semana inteira

Sol a sol

Suor a suor

Açoite a açoite

 

É uma coisa que te pega

E não te larga

É como larva de berne

Como sangue suga

Que se acomoda no pântano da alma

 

Só é possível sair do pântano quem sabe que nele está

 

Ei você, já percebeu o pântano?


Homem à frente em uma estrada para o horizonte
📷Marek Piwnicki


terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Sinuosa

Poemas são pra chorar

Pra sorrir

Pra gargalhar

E pra dar indiretas

Daquelas bem dadas

Na testa do vizinho

Na cara da namorada

Você não fala nada

Mas em sentidos

A poesia nada

 

É um nada

 

Nada de verdades

Mas de desalentos

São pensamentos

Que colam

Na testa da sua sogra

TAC

Ficam lá bem grudados

Ela ri

Você também

Mas não falou nada

 

Sabe aquela poesia?

 

Não era ninguém

Mas era pra uma gata

Que não te dava bola mesmo

Mas pelo menos rendeu uma pelada

 

Cof cof

Com as palavras

 

Palavras com a pelada

 

Não! Pelada com as palavras

 

Ah! Deixa pra lá

Você entendeu

Se não entendeu

Mostra e pergunta pra sua sogra


Silhueta de uma mulher que está se alongando
📷David Hofmann


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Vida

Basta apenas um sopro

Um encosto

Um arroubo

E tudo se desfaz

Como se a vida não importasse

Como se o chão não existisse

Como se não fosse possível haver paz

 

Quando há um desassossego

Um assombro

Um pesadelo

Tudo que a alma traz

De bom?

Talvez seja joeirado

E atirado ao vento

Fadado ao relento

Que um dia o passado traz

 

E rememora

Com amargura inata

Como se houvesse vida antes

Mas não depois

Há sempre um antes

E um depois

Um aspirar e soltar

Um respirar e expirar

 

Um deleitar-se soturno

Com a dama de preto

Que porta a rosa de vermelho

Com a solidão

 

Com a vida que com o dedo em riste

Ri prazerosamente e lhe diz “não”

Não é possível

Ser quem você era

Não é possível

Tornar-se quem foi

 

As facetas do passado rememoram

A experiência fica

A vida ensina

Ou não...


Quarto antigo - foto em cores frias
📷 Peter Herrman


quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Dissolução

Anda

Corre

Ria

Faça

Mas não se ajoelhe

Não se achegue aos homens maus

Que apenas querem sua pele

O seu jogo

O seu suor

A sua carne

O seu sangue

 

O seu espírito

 

Que é a sua vontade exangue

 

Chore

Pie

Grite

Esmoreça

Ria

Amaldiçoe

 

Mas não chore demais

Por quem foi

Era apenas um professor

Alguém que a vida

Um dia lhe enganou

Para ensinar o dissabor

 

Arranque

Deite

Mate

Livre

Estanque

Em riste

 

Em punho

Em pé

Em Marte

 

Por que aqui não é Vênus

Para que tudo se acabe em arte

É a Terra

Onde se vive

Se mata

Se grita

Se vive

Se esvai

Se dissolve

Dissolve

Dissol

Diss

Di

D

...


📷 EWA URBAN




quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Plágio

Ai que preguicinha

Vou copiar

 

Ai que tédio

Vou colar

 

Para que tanto esforço?

Se posso plagiar?

 

Leitura, pesquisa, escrita?

Credo

Eu quero nota

 

Testar, avaliar e monitorar?

Deus zulivre

Eu quero o dinheiro

 

A cultura do esforço é tardia

É para os fracos

 

Mas para aqueles que sabem apreciam um bom trabalho..

Como eu?

 

Que aprecio o trabalho dos outros

Só não dou os créditos

Senão não seria meu

 

Muitas pessoas labutam

Eu tenho crédito

 

Muitas almas fazem vigília

Mas eu vou para o Céu

 

Não há quem me tire o mérito

Porque eu mereço

Não perco tempo com normas sociais

Dessas pessoas fracas de quem eu tomo

 

Porque eu posso

Porque eu tomo

Porque eu me qualifico

Porque eu me beneficio

 

E os outros?

Os outros trabalham


Pessoa digitando no teclado do computador
📷 Sigmund


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Politicar

Falo português

Inglês

Mandarim

Japonês

Pra vocês

Um javanês

Em anis

Em firulês

Para inglês

Ver

Ouvir

E gostar

Afinal

Bom enrolar

Processar

As ideias

E pernoitar

Em muitas conversações

Em um olhar

Em risadas sem sentido

Basta falar

Enrolar

Engrandecer

Fingir

Falar

Falar

Falar

Ser um punguista

Das palavras

Das ideias

Das enroladas

 

O povo gosta

O povo ama

O povo quer


Homem segura e lê jornal que está literalmente pegando fogo
📷 Marek Pospisil


quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Poesia capetalista

Poema sem valor

Mal pensado

Desafinado

Pensado apenas em um estalo de estupor

 

Estuporado?

 

É um poema estopim

Coisa do diabo

Coisa que aparece em noite de festim

Coisa do sabá endiabrado

 

Coisa feita sem coração!

 

Sem alma

Sem decência

Uma coisa feita apenas por fazer

Em nome de deus

Do deus mercado!

 

Que nos corrompe

Que nos vende

Que nos compra

 

Que compra um poema na praia de Copacabana

Sem alma

Nem interesse

Apenas vertigem

 

Algo para cantar a moça

Que é boa

E veio vender poema

Com aquela cara toda

 

E aquela falta de vergonha

 

Ah! Se eu tivesse talento...


Mulher bocejando e coçando o cotovelo
📷 Debashis RC Biswas


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Então é natal

Então é natal


Do velho e do novo

Do amor como um todo


 

Então é natal

Não, não é natal

Hoje é dia 26

O povo tá de bucho cheio


E cheio de raiva

Porque falou com o tio

do pavê

E teve que lidar com as tias

Perguntando porque tá solteiro

E com a vó deprimida

que é deprimida o ano inteiro

 

Então é natal

A festa cristã


Mas eu não sou cristão

Minha religião é outra:

Sou ateuzão

Toco guitarra

E só ouço metal


E no final de ano só fico de preto

E não pulo ondinha


- e depois reclama que não tem mulher nem dinheiro...


Então é Natal, o que a gente fez?

O ano termina, e começa outra vez


Sim, de novo contas a pagar

Vendas

Comércio

Finanças

Escassez


Peraí, mas isso aí é Natal!


Família arrumando a árvore de natal
📷 Jonathan Borba